melancolia

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Laura Tedeschi

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Ter ou não ter uma empregada doméstica?

 Eu costumo ter opinião pra tudo... então de vez em quando vou postar sobre como penso em relação a coisas polêmicas (ou não). Assim daqui alguns anos eu posso ver se meus argumentos são consistentes ou se tudo mudou na minha cabeça cheia de novelos de lã! Já adianto que penso meio torto, meus cabelos são encaracolados e minhas ideias ainda mais...

  Então a questão é: o trabalho de casa é desgastante, não muito recompensador, diário e cansativo. No Brasil é muito comum que as famílias tenham empregadas domésticas (claro aquelas com uma condiçãozinha melhor). Nos países desenvolvidos isso é bem menos comum, afinal a mão de obra é bem paga e isso restringe o acesso da classe média aos prestes de uma ajudante de casa.

Existe um discurso pré-pronto (eu não gosto de discursos de microondas, saem tão rápido da boca - nem sei se passam pela cabeça) (mas devo confessar que muitas pessoas não só discursam, mas tem um bom entendimento e são exemplares e coerentes com o que dizem) que é o seguinte:
"o Brasil tem resquiços escravagistas que mantém a cultura da empregada doméstica, isso é um absurdo. A pessoa não tem vergonha de ter empregadas domésticas? E explorar seu igual?"

Eu reitero que o trabalho de casa é desgastante, contínuo, não dá status enfim... um monte de coisa ruim (eu não gosto de cuidar de casa...hehehe), mas o faço e não tenho empregada.


Contudo, entretanto, todavia. Eu acredito que a maior explicação para a existência de empregadas domésticas é a desigualdade social.
A característica que eu vejo que vem da escravidão é a forma (e aí está o problema e não o trabalho em si) como a empregada doméstica foi enquadrada no direito do trabalho, nos direitos de fato e na relação com os patrões (tem que dormir no trabalho, ou chegar super cedo pra fazer o café e só sair depois que a louça do jantar estiver limpa, não tem fim de semana livre... peraí, aí sim, devemos lutar pra não acontecer, quer tudo isso, então tenha dois ou três empregados). Um outro problema que eu só me dei conta recentemente é a relação (espero que antiga) de que a empregada doméstica tinha um papel de iniciação sexual nos adolescentes da casa, isso é um ABSURDO! Inadmissível. E quando falo em empregada doméstica falo na funcionária do lar, não dessa relação equivocada que se criou.



 Então eu vejo que a galera, por mais que a intenção não seja essa, têm um preconceito enorme com o trabalho doméstico.

As pessoas chegam a dizer que não é um trabalho digno... e que é o privilégio de uma classe em explorar outra classe desprivilegiada (e um outro ser humano...).

 Gente, peraí. Temos que discutir outras coisas, inclusive, discutindo os aspectos reais (como melhoria de salários e direitos) a tendência é reduzir o número de empregadas domésticas - se essa é a questão: acabar com esse trabalho desumano...

Mas ao mesmo tempo, essa humilde pessoa, que, para alguns, vai parecer uma alienada de classe média que quer garantir o direito de continuar expropriando o trabalho alheio (daqui a pouco Marx vem aqui me dar um puxão de orelha).... acredita que:
Essa discussão acaba gerando um maior preconceito com as empregadas domésticas, elas são mal vistas pela sociedade. Isso sim é um absurdo.

Seria eu tão alienada?

Eu acredito que todas as funções tem que ser bem remuneradas (lixeiro, gari, doméstica, atendente, empregado rural, professor etc. etc. etc.), ter todos os direitos trabalhistas, aposentadoria garantida, acesso a saúde, educação etc...
Ou vamos extinguir toda a exploração do trabalho? Temos sim que reduzir a desigualdade. Porque uns com tanto e outros sem nada?

Se for porque é ruim limpar a casa, fazer comida... uai, mas é difícil também ser cuidadora de idosos, de pessoas com dependência... e se o parente não consegue fazer isso sozinho?? É expropriação do trabalho alheio? Porque ser doméstica é a pior coisa do mundo?

E tem mais uma coisinha que estava discutindo... as pessoas não podem comparar coisas que são incomparáveis. Se você tem filhos aqui na Europa você tem uma estrutura de creches e colégios para os pequenos de qualidade, vai pra grande maioria das cidades do interior no Brasil, onde deixar os filhos??? Onde?? Quem pode deixar com os avós, ótimo, mas e quem não tem essa opção?

Então sei lá, viu... tem coisas que ainda não me convencem, mesmo que tenham a melhor intenção do mundo...

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